quarta-feira, 23 de outubro de 2013

ba.bi.lô.nia com.pac.ta.da - por André Okuma

É a mesma Babilônia, mas é outra Babilônia, acredito que assim como Bergson pensava o tempo, o Populacho soube pensar o espaço, onde tudo se dá de maneira orgânica, nada é mecânico, racional, sistemático e conservador. No Presidente Dutra, as coisas se reconfiguram de maneira quase que natural, sua essência se mantém inabalável porém, ela se apodera da adversidade para potencializar suas questões, se no tempo de Bergson passado e presente se fundem no tempo da consciência, Nelson e Presidente Dutra (assim como Pimentas e Ponte Alta) se fundem no espaço de uma "consciência babilônica", no caso do Presidente Dutra, a sala fechada aumentou o caos, e a tensão e mal estar do Ano I, no escritório, perdura de maneira visceral no decorrer da peça, tudo é fechado no mesmo ambiente, a confusão é claustrofóbica, o calor da sala se torna pertinente, nos permitindo aflorar visceralmente a babilônia de nossos corações, a angústia da faxineira é a nossa, pois o calor e a proximidade nos força a isso, a identificação é inevitável, por outro lado, os cubículos do escritório grafados em fita crepe sobre o fundo claro do chão, ao contrário do linóleo preto da sala 1 do Nelson, deixam suas demarcações mais suaves quase imaginárias, nos dando a impressão de uma falsa liberdade, de um enclausuramento metafórico, porém existente, que só se torna intenso quando no fim do espetáculo o espiral projetado se movimenta sobre esses cubículos geométricos agora iluminados pela projeção, aparecem com força, onde movimento orgânico projetado a partir do manuseio do projetor, criou uma angústia dessa circularidade (pensemos na simbologia disso) sobre essas linhas que antes sutis se formam concretas cercando e oprimindo essa circularidade, e a faxineira assim como o circulo que transita caoticamente tentando sair desse labirinto sem fim, tensionando a relação entre as formas assimétricas e simétricas, o caos e ordem, o cidadão e o político, o ódio e o amor, o ideal e o real, o claro e o escuro. O ESCURO no claro. Isso é novo na montagem e fecha dramaticamente o espetáculo, de maneira abstrata mas incisiva. Não tinha isso tudo no Nelson, tem aqui, pensando agora, a Babilônia só pode ser Babilônia, quando ela se encontra com a cidade, com suas contradições, ineficiências e complexidades, a Babilônia só pode ser Babilônia e se reconhecer como Babilônia no caos de Guarulhos.

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